segunda-feira, 18 de junho de 2012

Crucifixo amor


              Seria quase noite. Não. Névoas. Seriam névoas em teu olhar. O céu era de um branco pardo. Pássaros distantes revoavam disformes, inquietos, e fixavam-se inertes por entre nuvens e véus, formando estrando desenho. Como que pressentimentos.
              Seiva de espinhos perfuram tu’alma, mãos nervosas e perversas dilaceram-te como se fosse ontem. Trêmulas córneas te observam estupefatas, em silêncio. Ao fitá-las, um misto de certezas várias recai sobre ti como se nada houvesse. O belo e o trágico acariciam-te, confundidos. Tremeluzentes lágrimas rasgam-se secas em tuas vestes pálidas. Estalidos. Arroxeadas dores escorrem quase místicas por entre dedos e nervos, em tuas entranhas, nos teus interstícios.  Os véus da noite acalentam celestiais o pálido sangue. Sacro. Estrelas fixas observam inertes amaríssimo dulçor na nívea lágrima que escorre, silente e branda tal qual o respirar de flores mudas em dias de inverno, afagando.
              Límpidos estigmas suspiram cansados e fenecem sacros. As pálpebras celestes se abrem e conduzem à superfície dos olhos reluzentes fios d’água.  A débil flor dói. Observa. Teu manto a embala como um berço e a faz repousar em campos místicos e todos os perfumes, a seiva da vida, o perfeito bálsamo descansa, em tuas veias crucifixas.